Um empresário brasileiro, vítima da crise econômica,
ora em uma igreja:
- Ajudai-me, minha Santa Edwiges! Fazei com que eu
me livre da falência, que eu consiga pagar aquela dívida
gigantesca com meus fornecedores e com o governo!
Cuidai para que meus bens não sejam confiscados,
minha contas bloqueadas ...
Nisso, um pé-rapado, de aspecto bem miserável,
ajoelha-se ao lado e começa a rezar em voz alta:
- Ó, minha Santa Edwigens, protetora dos endividados,
me ajude a ganhar no bicho pelo menos uns cem reais
pra eu comprar comida pra minha família! Misericórdia!
Só cem reais, minha santinha!
O empresário pega cem reais na carteira e entrega para o pobre:
- Pega seus cem reais e se manda daqui! Deixa a Santa
se concentrar no meu caso, pô.
-x-x-x-x-
30 novembro, 2011
Leia o texto abaixo e depois...
"Leia o texto abaixo e depois leia de baixo para cima"
Não te amo mais.
Estarei mentindo dizendo que
Ainda te quero como sempre quis.
Tenho certeza que
Nada foi em vão.
Sinto dentro de mim que
Você não significa nada.
Não poderia dizer jamais que
Alimento um grande amor.
Sinto cada vez mais que
Já te esqueci!
E jamais usarei a frase
EU TE AMO!
Sinto, mas tenho que dizer a verdade
É tarde demais...
Clarice Lispector
Não te amo mais.
Estarei mentindo dizendo que
Ainda te quero como sempre quis.
Tenho certeza que
Nada foi em vão.
Sinto dentro de mim que
Você não significa nada.
Não poderia dizer jamais que
Alimento um grande amor.
Sinto cada vez mais que
Já te esqueci!
E jamais usarei a frase
EU TE AMO!
Sinto, mas tenho que dizer a verdade
É tarde demais...
Clarice Lispector
29 novembro, 2011
O CAIPIRA E O ENGENHEIRO
Um caipira vai observar um engenheiro que está trabalhando na construção de uma estrada. O engenheiro está fazendo medições do terreno com um teodolito.
-Taaarde! –começa a prosa o mineiro – prá que ocê tá usando esse trem aí?
-Estou medindo o terreno para a construção de uma estrada que vai passar por aqui. – responde o engenheiro.
-Uai!?? E oceis precisa desse trem pra fazê uma estradica?
-Sim, é necessário. Por que? Vocês aqui em Minas não usam isso para construir estradas?
-Ói, nóis num usa, não. Quando a gente qué fazê uma estrada, nóis sorta um burro e vai atrais, seguindo o bicho. Por onde o ele passá é o caminho mais fácil pra fazê a estrada...
-Muito engenhoso o método de vocês. Mas como é que se faz se vocês não tiverem o burro? –pergunta o engenheiro.
-Bão, quando é anssim, a gente chama us engenheiro.
-Taaarde! –começa a prosa o mineiro – prá que ocê tá usando esse trem aí?
-Estou medindo o terreno para a construção de uma estrada que vai passar por aqui. – responde o engenheiro.
-Uai!?? E oceis precisa desse trem pra fazê uma estradica?
-Sim, é necessário. Por que? Vocês aqui em Minas não usam isso para construir estradas?
-Ói, nóis num usa, não. Quando a gente qué fazê uma estrada, nóis sorta um burro e vai atrais, seguindo o bicho. Por onde o ele passá é o caminho mais fácil pra fazê a estrada...
-Muito engenhoso o método de vocês. Mas como é que se faz se vocês não tiverem o burro? –pergunta o engenheiro.
-Bão, quando é anssim, a gente chama us engenheiro.
25 novembro, 2011
POLÍTICO FAMOSO
Numa festa, a madame é apresentada a um eminente político.
- Muito prazer! - diz ele.
- Prazer! Saiba que já ouvi muito falar do senhor!
- É possível, minha senhora, mas ninguém tem provas!
- Muito prazer! - diz ele.
- Prazer! Saiba que já ouvi muito falar do senhor!
- É possível, minha senhora, mas ninguém tem provas!
BUSCANDO A CRISTO
A vós correndo vou, braços sagrados,
Nessa cruz sacrossanta descobertos
Que, para receber-me, estais abertos,
E, por não castigar-me, estais cravados.
A vós, divinos olhos, eclipsados
De tanto sangue e lágrimas abertos,
Pois, para perdoar-me, estais despertos,
E, por não condenar-me, estais fechados.
A vós, pregados pés, por não deixar-me,
A vós, sangue vertido, para ungir-me,
A vós, cabeça baixa, p'ra chamar-me
A vós, lado patente, quero unir-me,
A vós, cravos preciosos, quero atar-me,
Para ficar unido, atado e firme.
GREGÓRIO DE MATOS GUERRA
Nessa cruz sacrossanta descobertos
Que, para receber-me, estais abertos,
E, por não castigar-me, estais cravados.
A vós, divinos olhos, eclipsados
De tanto sangue e lágrimas abertos,
Pois, para perdoar-me, estais despertos,
E, por não condenar-me, estais fechados.
A vós, pregados pés, por não deixar-me,
A vós, sangue vertido, para ungir-me,
A vós, cabeça baixa, p'ra chamar-me
A vós, lado patente, quero unir-me,
A vós, cravos preciosos, quero atar-me,
Para ficar unido, atado e firme.
GREGÓRIO DE MATOS GUERRA
24 novembro, 2011
ai de mim, copacabana
TORQUATO NETO
ai de mim, copacabana
um dia depois do outro
numa casa abandonada
numa avenida
pelas três da madrugada
num barco sem vela aberta
nesse mar
nem mar sem rumo certo
longe de ti
ou bem perto
é indiferente, meu bem
um dia depois do outro
ao teu lado ou sem ninguém
no mês que vem
neste país que me engana
ai de mim, copacabana
ai de mim: quero
voar no concorde
tomar o vento de assalto
numa viagem num salto
(você olha nos meus olhos
e não vê nada -
é assim mesmo
que eu quero ser olhado).
um dia depois do outro
talves no ano passado
é indiferente
minha vida tua vida
meu sonho desesperado
nossos filhos nosso fusca
nossa butique na augusta
o ford galaxie, o medo
de não ter um ford galaxie
o táxi, o bonde a rua
meu amor, é indiferente
minha mãe, teu pai a lua
nesse país que me engana
ai de mim, copacabana
ai de mim, copacabana
ai de mim, copacabana
ai de mim.
musicada por Caetano Veloso
em "Os Últimos Dias de Paupéria"
Org. Wally Salomão e Ana Maria S. de Araújo Duarte
Ed. Max Limonad, 1982
ai de mim, copacabana
um dia depois do outro
numa casa abandonada
numa avenida
pelas três da madrugada
num barco sem vela aberta
nesse mar
nem mar sem rumo certo
longe de ti
ou bem perto
é indiferente, meu bem
um dia depois do outro
ao teu lado ou sem ninguém
no mês que vem
neste país que me engana
ai de mim, copacabana
ai de mim: quero
voar no concorde
tomar o vento de assalto
numa viagem num salto
(você olha nos meus olhos
e não vê nada -
é assim mesmo
que eu quero ser olhado).
um dia depois do outro
talves no ano passado
é indiferente
minha vida tua vida
meu sonho desesperado
nossos filhos nosso fusca
nossa butique na augusta
o ford galaxie, o medo
de não ter um ford galaxie
o táxi, o bonde a rua
meu amor, é indiferente
minha mãe, teu pai a lua
nesse país que me engana
ai de mim, copacabana
ai de mim, copacabana
ai de mim, copacabana
ai de mim.
musicada por Caetano Veloso
em "Os Últimos Dias de Paupéria"
Org. Wally Salomão e Ana Maria S. de Araújo Duarte
Ed. Max Limonad, 1982
23 novembro, 2011
JOÃOZINHO NA HORA DO JANTAR
Durante o jantar, Joãozinho conversa com a mãe: - Mamãe, por que é que o papai é careca? - Ora, filhinho.... Porque ele tem muitas coisas para pensar e é muito inteligente! - Mas mamãe....então por que é que você tem tanto cabelo? - Cala a boca e come logo esta po*ra de sopa, menino!
22 novembro, 2011
MULTIDÃO
NO MEIO DA MULTIDÃO
ME SENTI PEQUENO.
PORÉM A MULTIDÃO,
DE PENSAMENTOS
E DE SENTIMENTOS TÃO PEQUENOS,
ERA TÃO PEQUENA,
QUE, NO MOMENTO,
ME SENTI GRANDE.
HOMENAGEM AO ERNANDES
ME SENTI PEQUENO.
PORÉM A MULTIDÃO,
DE PENSAMENTOS
E DE SENTIMENTOS TÃO PEQUENOS,
ERA TÃO PEQUENA,
QUE, NO MOMENTO,
ME SENTI GRANDE.
HOMENAGEM AO ERNANDES
ILUMINAR
Na viagem,
Não dava para
Ver a paisagem.
Era noite e o pássaro dormia.
E eu sem sono, não via
A hora de amanhecer o dia.
Não dava para
Ver a paisagem.
Era noite e o pássaro dormia.
E eu sem sono, não via
A hora de amanhecer o dia.
21 novembro, 2011
SEGREDO
do nosso segredo
sabe a flor que vigia a noite
e o luar da varanda
quente no meu corpo.
sabem nossas bocas
travadas pelo medo
e nossas mãos vazias
de nossas próprias mãos.
sabem nossos olhos
quando se encavilham
sabe meu verso cheio de falta
e dessa saudade teorizada
que se põe sobre as coisas.
GRAÇA VILHENA
sabe a flor que vigia a noite
e o luar da varanda
quente no meu corpo.
sabem nossas bocas
travadas pelo medo
e nossas mãos vazias
de nossas próprias mãos.
sabem nossos olhos
quando se encavilham
sabe meu verso cheio de falta
e dessa saudade teorizada
que se põe sobre as coisas.
GRAÇA VILHENA
20 novembro, 2011
DEPOIS DA TEMPESTADE
Amanhã
Vou amanhecer contente,
Pois me deste
Um grande presente:
Voltaste a me amar.
Depois de me odiar.
Vou amanhecer contente,
Pois me deste
Um grande presente:
Voltaste a me amar.
Depois de me odiar.
Loucura das esposas
Bate-papo entre dois brasileiros e um português:
Um brasileiro diz:
- Eu acho que minha mulher esta louca. Vai todos os
dias comprar jornal e é cega.
E o outro brasileiro diz:
- E a minha que é surda e vai todos os dias comprar
cds.
E o português diz:
- E o pior é a minha que tem camisinha na bolsa e nem
pênis tem!
Um brasileiro diz:
- Eu acho que minha mulher esta louca. Vai todos os
dias comprar jornal e é cega.
E o outro brasileiro diz:
- E a minha que é surda e vai todos os dias comprar
cds.
E o português diz:
- E o pior é a minha que tem camisinha na bolsa e nem
pênis tem!
19 novembro, 2011
MANUAL PARA ENTENDER AS MULHERES
- HUM = TÔ COM CIÚMES
- SEI = NÃO ACREDITO EM NADA DO QUE DISSE
- TÁ = PARA DE FALAR
- NÃO É NADA = TÁ TUDO ERRADO, TEM ALGUMA COISA
- NÃO FALA COMIGO = PEDE DESCULPAS AGORA
- ESQUECE = NÃO ADIANTA, NÃO VAI ENTENDER
- ENTÃO VAI = NÃO VAI DE JEITO NENHUM
- DE BOA = COM RAIVA
- SAI DAQUI AGORA = SE SAIR MORRE
- NÃO PRECISA VIR NA MINHA CASA = VEM JÁ
- FAÇA O QUE QUISER = SE FIZER JÁ ERA
- NÃO = SIM
- SIM = TALVEZ
- TALVEZ = NÃO
- SEI = NÃO ACREDITO EM NADA DO QUE DISSE
- TÁ = PARA DE FALAR
- NÃO É NADA = TÁ TUDO ERRADO, TEM ALGUMA COISA
- NÃO FALA COMIGO = PEDE DESCULPAS AGORA
- ESQUECE = NÃO ADIANTA, NÃO VAI ENTENDER
- ENTÃO VAI = NÃO VAI DE JEITO NENHUM
- DE BOA = COM RAIVA
- SAI DAQUI AGORA = SE SAIR MORRE
- NÃO PRECISA VIR NA MINHA CASA = VEM JÁ
- FAÇA O QUE QUISER = SE FIZER JÁ ERA
- NÃO = SIM
- SIM = TALVEZ
- TALVEZ = NÃO
DE: JESUS PARA DEUS
Pai, por que nasci aqui?
Não tive tempo de curtir!
Nem, ao menos, de sorrir!
Deixe-me ir ao encontro de Ti.
E na viagem, quero força
para eu não cair.
Não tive tempo de curtir!
Nem, ao menos, de sorrir!
Deixe-me ir ao encontro de Ti.
E na viagem, quero força
para eu não cair.
18 novembro, 2011
PARABÉNS, MORRO!
Fogos de artifícios
Rajadas de balas
Pipas alegres ao ar
Churrascos nas lajes
Pó e mais pó de arroz
Cervejas a balde
O morro aniversaria
Escolas e mulatas
O bolo no meio
Hoje não há aula
E o bolo no meio
Velas aos arredores
O bolo é comprido
E as velas são grandes
Rajadas de balas
Pipas alegres ao ar
Churrascos nas lajes
Pó e mais pó de arroz
Cervejas a balde
O morro aniversaria
Escolas e mulatas
O bolo no meio
Hoje não há aula
E o bolo no meio
Velas aos arredores
O bolo é comprido
E as velas são grandes
16 novembro, 2011
A 3ª
NÃO HÁ MAIS ESTRELAS
NÃO HÁ MAIS CÉU
NÃO HÁ MAIS SOL
NÃO HÁ MAIS DIA
NÃO HÁ MAIS AR
NÃO HÁ MAIS MAR.
NÃO HÁ MAIS CÉU
NÃO HÁ MAIS SOL
NÃO HÁ MAIS DIA
NÃO HÁ MAIS AR
NÃO HÁ MAIS MAR.
Livros e Flores
Livros e flores
Teus olhos são meus livros.
Que livro há aí melhor,
Em que melhor se leia
A página do amor?
Flores me são teus lábios.
Onde há mais bela flor,
Em que melhor se beba
O bálsamo do amor?
Machado de Assis
Teus olhos são meus livros.
Que livro há aí melhor,
Em que melhor se leia
A página do amor?
Flores me são teus lábios.
Onde há mais bela flor,
Em que melhor se beba
O bálsamo do amor?
Machado de Assis
15 novembro, 2011
SONETO LÍRICO
Escuta, ó minha amada, o tempo nunca para
e o sorriso mais puro definha e emurchece.
Quer seja alma generosa ou seja alma avara
quer seja anjo ou demônio, seja choro ou prece
seja o dia escuro, seja a noite mais clara
quer seja o ódio que mata ou o amor que enlouquece
o destino insensato pra tudo prepara
o seu sopro fatal que aniquila e emudece.
Escuta, pois, ó amada, meu apelo enorme
acorda em tua alma teu desejo que dorme
e dissolve em meus braços teus sonhos fatais.
Vivamos com avidez o minuto que passa
amemo-nos por hoje, que tudo é fumaça
e nós dois amanhã não existiremos mais!
Álvaro Pacheco
Rio, maio 55 (Os instantes e os Gestos)
e o sorriso mais puro definha e emurchece.
Quer seja alma generosa ou seja alma avara
quer seja anjo ou demônio, seja choro ou prece
seja o dia escuro, seja a noite mais clara
quer seja o ódio que mata ou o amor que enlouquece
o destino insensato pra tudo prepara
o seu sopro fatal que aniquila e emudece.
Escuta, pois, ó amada, meu apelo enorme
acorda em tua alma teu desejo que dorme
e dissolve em meus braços teus sonhos fatais.
Vivamos com avidez o minuto que passa
amemo-nos por hoje, que tudo é fumaça
e nós dois amanhã não existiremos mais!
Álvaro Pacheco
Rio, maio 55 (Os instantes e os Gestos)
14 novembro, 2011
O NAVIO NEGREIRO VI
Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...
Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!
CASTRO ALVES
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...
Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!
CASTRO ALVES
O NAVIO NEGREIRO V
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!
Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!...
São os filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão. . .
São mulheres desgraçadas,
Como Agar o foi também.
Que sedentas, alquebradas,
De longe... bem longe vêm...
Trazendo com tíbios passos,
Filhos e algemas nos braços,
N'alma — lágrimas e fel...
Como Agar sofrendo tanto,
Que nem o leite de pranto
Têm que dar para Ismael.
Lá nas areias infindas,
Das palmeiras no país,
Nasceram crianças lindas,
Viveram moças gentis...
Passa um dia a caravana,
Quando a virgem na cabana
Cisma da noite nos véus ...
... Adeus, ó choça do monte,
... Adeus, palmeiras da fonte!...
... Adeus, amores... adeus!...
Depois, o areal extenso...
Depois, o oceano de pó.
Depois no horizonte imenso
Desertos... desertos só...
E a fome, o cansaço, a sede...
Ai! quanto infeliz que cede,
E cai p'ra não mais s'erguer!...
Vaga um lugar na cadeia,
Mas o chacal sobre a areia
Acha um corpo que roer.
Ontem a Serra Leoa,
A guerra, a caça ao leão,
O sono dormido à toa
Sob as tendas d'amplidão!
Hoje... o porão negro, fundo,
Infecto, apertado, imundo,
Tendo a peste por jaguar...
E o sono sempre cortado
Pelo arranco de um finado,
E o baque de um corpo ao mar...
Ontem plena liberdade,
A vontade por poder...
Hoje... cúm'lo de maldade,
Nem são livres p'ra morrer. .
Prende-os a mesma corrente
— Férrea, lúgubre serpente —
Nas roscas da escravidão.
E assim zombando da morte,
Dança a lúgubre coorte
Ao som do açoute... Irrisão!...
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus,
Se eu deliro... ou se é verdade
Tanto horror perante os céus?!...
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
Do teu manto este borrão?
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão! ...
CASTRO ALVES
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!
Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!...
São os filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão. . .
São mulheres desgraçadas,
Como Agar o foi também.
Que sedentas, alquebradas,
De longe... bem longe vêm...
Trazendo com tíbios passos,
Filhos e algemas nos braços,
N'alma — lágrimas e fel...
Como Agar sofrendo tanto,
Que nem o leite de pranto
Têm que dar para Ismael.
Lá nas areias infindas,
Das palmeiras no país,
Nasceram crianças lindas,
Viveram moças gentis...
Passa um dia a caravana,
Quando a virgem na cabana
Cisma da noite nos véus ...
... Adeus, ó choça do monte,
... Adeus, palmeiras da fonte!...
... Adeus, amores... adeus!...
Depois, o areal extenso...
Depois, o oceano de pó.
Depois no horizonte imenso
Desertos... desertos só...
E a fome, o cansaço, a sede...
Ai! quanto infeliz que cede,
E cai p'ra não mais s'erguer!...
Vaga um lugar na cadeia,
Mas o chacal sobre a areia
Acha um corpo que roer.
Ontem a Serra Leoa,
A guerra, a caça ao leão,
O sono dormido à toa
Sob as tendas d'amplidão!
Hoje... o porão negro, fundo,
Infecto, apertado, imundo,
Tendo a peste por jaguar...
E o sono sempre cortado
Pelo arranco de um finado,
E o baque de um corpo ao mar...
Ontem plena liberdade,
A vontade por poder...
Hoje... cúm'lo de maldade,
Nem são livres p'ra morrer. .
Prende-os a mesma corrente
— Férrea, lúgubre serpente —
Nas roscas da escravidão.
E assim zombando da morte,
Dança a lúgubre coorte
Ao som do açoute... Irrisão!...
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus,
Se eu deliro... ou se é verdade
Tanto horror perante os céus?!...
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
Do teu manto este borrão?
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão! ...
CASTRO ALVES
O NAVIO NEGREIRO IV
Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!
E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...
Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!
No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."
E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...
CASTRO ALVES
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!
E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...
Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!
No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."
E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...
CASTRO ALVES
13 novembro, 2011
O NAVIO NEGREIRO III
Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!
Desce mais ... inda mais... não pode olhar humano
Como o teu mergulhar no brigue voador!
Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras!
É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ...
Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!
CASTRO ALVES
Desce mais ... inda mais... não pode olhar humano
Como o teu mergulhar no brigue voador!
Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras!
É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ...
Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!
CASTRO ALVES
12 novembro, 2011
11 novembro, 2011
O NAVIO NEGREIRO II
Que importa do nauta o berço,
Donde é filho, qual seu lar?
Ama a cadência do verso
Que lhe ensina o velho mar!
Cantai! que a morte é divina!
Resvala o brigue à bolina
Como golfinho veloz.
Presa ao mastro da mezena
Saudosa bandeira acena
As vagas que deixa após.
Do Espanhol as cantilenas
Requebradas de langor,
Lembram as moças morenas,
As andaluzas em flor!
Da Itália o filho indolente
Canta Veneza dormente,
— Terra de amor e traição,
Ou do golfo no regaço
Relembra os versos de Tasso,
Junto às lavas do vulcão!
O Inglês — marinheiro frio,
Que ao nascer no mar se achou,
(Porque a Inglaterra é um navio,
Que Deus na Mancha ancorou),
Rijo entoa pátrias glórias,
Lembrando, orgulhoso, histórias
De Nelson e de Aboukir.. .
O Francês — predestinado —
Canta os louros do passado
E os loureiros do porvir!
Os marinheiros Helenos,
Que a vaga jônia criou,
Belos piratas morenos
Do mar que Ulisses cortou,
Homens que Fídias talhara,
Vão cantando em noite clara
Versos que Homero gemeu ...
Nautas de todas as plagas,
Vós sabeis achar nas vagas
As melodias do céu! ...
CASTRO ALVES
Donde é filho, qual seu lar?
Ama a cadência do verso
Que lhe ensina o velho mar!
Cantai! que a morte é divina!
Resvala o brigue à bolina
Como golfinho veloz.
Presa ao mastro da mezena
Saudosa bandeira acena
As vagas que deixa após.
Do Espanhol as cantilenas
Requebradas de langor,
Lembram as moças morenas,
As andaluzas em flor!
Da Itália o filho indolente
Canta Veneza dormente,
— Terra de amor e traição,
Ou do golfo no regaço
Relembra os versos de Tasso,
Junto às lavas do vulcão!
O Inglês — marinheiro frio,
Que ao nascer no mar se achou,
(Porque a Inglaterra é um navio,
Que Deus na Mancha ancorou),
Rijo entoa pátrias glórias,
Lembrando, orgulhoso, histórias
De Nelson e de Aboukir.. .
O Francês — predestinado —
Canta os louros do passado
E os loureiros do porvir!
Os marinheiros Helenos,
Que a vaga jônia criou,
Belos piratas morenos
Do mar que Ulisses cortou,
Homens que Fídias talhara,
Vão cantando em noite clara
Versos que Homero gemeu ...
Nautas de todas as plagas,
Vós sabeis achar nas vagas
As melodias do céu! ...
CASTRO ALVES
10 novembro, 2011
O NAVIO NEGREIRO I
'Stamos em pleno mar... Doudo no espaço
Brinca o luar — dourada borboleta;
E as vagas após ele correm... cansam
Como turba de infantes inquieta.
'Stamos em pleno mar... Do firmamento
Os astros saltam como espumas de ouro...
O mar em troca acende as ardentias,
— Constelações do líquido tesouro...
'Stamos em pleno mar... Dois infinitos
Ali se estreitam num abraço insano,
Azuis, dourados, plácidos, sublimes...
Qual dos dous é o céu? qual o oceano?...
'Stamos em pleno mar. . . Abrindo as velas
Ao quente arfar das virações marinhas,
Veleiro brigue corre à flor dos mares,
Como roçam na vaga as andorinhas...
Donde vem? onde vai? Das naus errantes
Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?
Neste saara os corcéis o pó levantam,
Galopam, voam, mas não deixam traço.
Bem feliz quem ali pode nest'hora
Sentir deste painel a majestade!
Embaixo — o mar em cima — o firmamento...
E no mar e no céu — a imensidade!
Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!
Que música suave ao longe soa!
Meu Deus! como é sublime um canto ardente
Pelas vagas sem fim boiando à toa!
Homens do mar! ó rudes marinheiros,
Tostados pelo sol dos quatro mundos!
Crianças que a procela acalentara
No berço destes pélagos profundos!
Esperai! esperai! deixai que eu beba
Esta selvagem, livre poesia
Orquestra — é o mar, que ruge pela proa,
E o vento, que nas cordas assobia...
..........................................................
Por que foges assim, barco ligeiro?
Por que foges do pávido poeta?
Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira
Que semelha no mar — doudo cometa!
Albatroz! Albatroz! águia do oceano,
Tu que dormes das nuvens entre as gazas,
Sacode as penas, Leviathan do espaço,
Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas.
CASTRO ALVES
Brinca o luar — dourada borboleta;
E as vagas após ele correm... cansam
Como turba de infantes inquieta.
'Stamos em pleno mar... Do firmamento
Os astros saltam como espumas de ouro...
O mar em troca acende as ardentias,
— Constelações do líquido tesouro...
'Stamos em pleno mar... Dois infinitos
Ali se estreitam num abraço insano,
Azuis, dourados, plácidos, sublimes...
Qual dos dous é o céu? qual o oceano?...
'Stamos em pleno mar. . . Abrindo as velas
Ao quente arfar das virações marinhas,
Veleiro brigue corre à flor dos mares,
Como roçam na vaga as andorinhas...
Donde vem? onde vai? Das naus errantes
Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?
Neste saara os corcéis o pó levantam,
Galopam, voam, mas não deixam traço.
Bem feliz quem ali pode nest'hora
Sentir deste painel a majestade!
Embaixo — o mar em cima — o firmamento...
E no mar e no céu — a imensidade!
Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!
Que música suave ao longe soa!
Meu Deus! como é sublime um canto ardente
Pelas vagas sem fim boiando à toa!
Homens do mar! ó rudes marinheiros,
Tostados pelo sol dos quatro mundos!
Crianças que a procela acalentara
No berço destes pélagos profundos!
Esperai! esperai! deixai que eu beba
Esta selvagem, livre poesia
Orquestra — é o mar, que ruge pela proa,
E o vento, que nas cordas assobia...
..........................................................
Por que foges assim, barco ligeiro?
Por que foges do pávido poeta?
Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira
Que semelha no mar — doudo cometa!
Albatroz! Albatroz! águia do oceano,
Tu que dormes das nuvens entre as gazas,
Sacode as penas, Leviathan do espaço,
Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas.
CASTRO ALVES
09 novembro, 2011
VELHINHA POP
A velhinha entra num sex-shop, toda trêmula, e pergunta ao vendedor:
- Voocêêê teeem viiibrrrradddooorrrrreeess?
- Temos sim senhora! De vários modelos…
- Teeeemmmm daaaaquueeeeleeesss immmpooortaaadooosss, de ciiinncoooo veloooociiiidaaadeeess?
- Temos sim, senhora!
- Ennntããão, meeee mooostrrraa cooomooo é quuueee eu faaaçooo paraaa dessliiiigaaar essstaaa meeerrrrdaaaa!
- Voocêêê teeem viiibrrrradddooorrrrreeess?
- Temos sim senhora! De vários modelos…
- Teeeemmmm daaaaquueeeeleeesss immmpooortaaadooosss, de ciiinncoooo veloooociiiidaaadeeess?
- Temos sim, senhora!
- Ennntããão, meeee mooostrrraa cooomooo é quuueee eu faaaçooo paraaa dessliiiigaaar essstaaa meeerrrrdaaaa!
08 novembro, 2011
AS SEM-RAZÕES DO AMOR
Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
E nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
E com amor não se paga.
Amor é dado de graça
É semeado no vento,
Na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
E a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
Bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
Não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
Feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
E da morte vencedor,
Por mais que o matem (e matam)
A cada instante de amor.
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Não precisas ser amante,
E nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
E com amor não se paga.
Amor é dado de graça
É semeado no vento,
Na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
E a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
Bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
Não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
Feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
E da morte vencedor,
Por mais que o matem (e matam)
A cada instante de amor.
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
04 novembro, 2011
AMOR DE HOMEM, NÃO DE MENINO
Quero te amar na rua.
Pode ser na lua.
Quero te amar,
não quero só beijar.
Quero te amar,
te amar nua.
Pode ser na lua.
Quero te amar,
não quero só beijar.
Quero te amar,
te amar nua.
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